Melhor enfermeira do Reino Unido conta ao CliHotel como revolucionou os cuidados de saúde em Inglaterra
Não é só à Cristina Ferreira que o Presidente Marcelo liga. Foi assim que no CliHotel de Guimarães começamos uma conversa informal, mas repleta de aprendizagem, com a melhor enfermeira de cuidados continuados no Reino Unido.
Terminou a licenciatura em 2013 e rumou a Inglaterra 1 ano depois. Em Portugal não lhe davam oportunidade e das poucas respostas que recebia, era sempre sublinhada a falta de experiência.
Mas então como é que tudo começou?
Em agosto de 2014 chegou a Inglaterra e nem a língua sabia falar. “Cheguei lá e fui procurar trabalho, de mente aberta” – afirmou cheia de vontade – “eu não entendo o que eles dizem, mas a gente por gestos há-de chegar lá”. Mas estava enganada. No primeiro hospital a que foi bater à porta disseram-lhe que o inglês era muito fraco para poder cuidar de pessoas.
Sem mais opções, Sílvia começou então por trabalhar nas limpezas. “Até que houve um senhor que tinha Parkinson, que precisava de alguém que o pudesse ajudar nas suas atividade de vida diárias. E eu comecei a tomar conta dele”. Sílvia cuidou deste senhor durante dois meses e conta-nos como começou a aperfeiçoar o seu inglês. “O espetacular disto foi que eu juntei o facto de que eu tinha de lhe promover a cognição com o facto de que eu tinha de aprender inglês”. E assim foi, ambos aprenderam durante este processo, e foi depois deste episódio que Sílvia deu o salto.
O começo da subida da escada para o sucesso
Em dezembro concorreu a um lar de idosos. O seu inglês tinha progredido, tentou a sua sorte como auxiliar de limpeza. A gerente do lar era portuguesa e disse-lhe desde logo que lhe ia dar uma oportunidade, mas não nas limpezas. Nesta fase, Sílvia já tinha feito o pedido para a ordem dos enfermeiros inglesa, mas o processo demorou 10 meses. “Fui trabalhar como auxiliar, o que foi muito bom. Comecei da forma correta, a aprender a legislação, a aprender a escrever” e tinha ainda uma equipa que a apoiava muito. “No final do turno tínhamos ali sempre 20 minutinhos e vamos ter aulas de inglês” – contou – “o interessante é que jogávamos o jogo da forca”.
Começou por fazer noites, pois a gerente do lar considerou um desperdício todos os conhecimentos que possuía. Foi nomeada chefe dos auxiliares. Mas não se adaptou muito bem, por isso voltou a fazer dias, mas na mesma posição.
10 dias após o pedido à ordem dos enfermeiros, chegou a autorização que lhe permitiu exercer. Daí até chegar à posição de diretora técnica demorou 6 meses. Em janeiro de 2016 era responsável por 73 camas.
“Eu não tenho mais nada para te oferecer aqui, vai-te embora”
Em setembro de 2016, a chefe de Sílvia disse-lhe “eu não tenho mais nada para oferecer aqui, vai-te embora”, pois não tinham mais desafios para lhe colocarem e achavam que podia ser útil noutro local que lhe pudesse oferecer mais. Sílvia pôs mãos à obra e concorreu ao lar Ford Place, onde hoje é vice gerente. Está lá desde então. “Neste momento ainda não estou pronta para fazer o próximo passo, ainda há qualquer coisa que tenho de aprender para passar a gerir um edifício como este sozinha” – disse referindo-se ao CliHotel.
O que aprendemos com a melhor enfermeira do Reino Unido?
“Em Inglaterra a forma de trabalhar a enfermagem é muito diferente da portuguesa”. Embora as técnicas sejam as mesmas, a legislação é muito diferente e põe muito entraves, até mais que a portuguesa. “Eu como vice gerente, eu não aceito ser gerente de um edifício se eu não puder trabalhar em contacto direto com os doentes. Como é que hei-de dizer à minha equipa: é assim que se faz, se eu própria não dou o exemplo?”. Trabalha 24h por semana em contacto direto com os doentes e as restantes 18 no escritório.
“Nós prestamos cuidados 24h por dia, o respeito pela dignidade humana é o mais importante”. Se um residente não quer levantar-se cedo, respeitam essa sua vontade, se quer tomar o pequeno-almoço na cama, assim será. A decoração também é importante para que se sintam em casa. “O lar é deles, eles é que vivem lá. Porque é que eu tenho de dizer que esta é a sala de jantar se eles dizem que aquela é que é a sala de jantar? Troca-se a mobília para a outra sala”. Os residentes escolhem os seus próprios quartos e podem mesmo decorá-los com a sua própria mobília.
Quando chegou ao Ford Place, a enfermeira colocou um inquérito aos residentes para saber que mudanças gostariam de fazer e procedeu de acordo com as respostas. Posteriormente pediu a planta do lar e colocou-a em ponto grande na parede do escritório. O passo seguinte foi alterar a disposição dos residentes e agrupá-los conforme as suas necessidades.
Esta partilha e este testemunho de Sílvia Nunes foram uma mais-valia para todos os presentes.