Residente do CliHotel homenageado pela Junta de Freguesia de Polvoreira
Passou décadas a criar roupas masculinas sob medida. Perdeu a conta aos fatos que produziu, artesanalmente, com cortes retos e precisos e tecidos clássicos. Mas, no domínio das vestes, a verdadeira paixão do alfaiate José Silva, de 97 anos, residente do CliHotel de Guimarães há 11 anos, foi sempre o mesmo fato: o de escuteiro.
E foi precisamente por tudo o que fez pelos agrupamentos regionais do Corpo Nacional de Escutas que a Junta de Freguesia de Polvoreira o homenageou, enquanto filho da terra, no início deste ano, no Dia da Freguesia.
«Os escuteiros gostavam muito dele. Tenho pessoas que ainda me ligam hoje propositadamente a perguntar pelo meu pai. Tenho amigas que me ligam a dizer: “olha, como é que está o teu pai?”. Mesmo agora, por causa desta pandemia, as pessoas têm carinho por ele, lembram-se dele. Já que não o podem ir visitar”, explica Augusta Silva, a sua filha mais nova.
A par da alfaiataria e da família, pertencer aos escuteiros enche José Silva, ainda hoje, de orgulho.
«Ser escuteiro significa muito para ele.
Volta e meia, mesmo no lar, ainda veste a farda. Adorou ser escuteiro. Chegou a dizer que os melhores tempos da vida dele foi nos escuteiros», revela a filha, com um largo sorriso no rosto, por se estar a lembrar de algumas peripécias vividas pelo pai.
Augusta Silva recorda-se do dia em que o pai, e mais dois amigos, alugaram um autocarro para uma viagem de grupo e, para espanto dos três, apenas eles compareceram, tendo de suportar toda a despesa. Aos 80 anos, José Silva ainda trabalhava como alfaiate e até a TVI se rendeu à sua mestria, dedicando-lhe uma reportagem. Após o falecimento da esposa, em janeiro de 2010, José Silva decidiu passar a viver no CliHotel de Guimarães. «Graças a Deus correu bem. Ele gosta de estar lá. Nota-se que está satisfeito. Elas brincam com ele e ele brinca muito com elas, há uma boa relação. O meu pai é uma pessoa muito comunicativa, gosta muito de falar, de brincadeiras», conta Augusta Silva, feliz por ter um pai «ainda autónomo» e que, para já, «só precisa de fisioterapia por causa das pernas».
Este contexto de pandemia condiciona, porém, quer a autonomia de José Silva, que gostava de ir merendar com os amigos no centro de
Guimarães, quer as interações dele com a família. «Estou sempre a pensar se ele precisa de alguma coisa. Se precisa de
cortar o cabelo. Ou as unhas. Ele sempre foi uma pessoa de muito brio e acredito que no CliHotel não se descurem os pormenores», afirma, com a preocupação natural de uma filha que só quer o melhor para o pai.
Aos 97 anos, José Silva continua a viver o ideal escutista. Comprometido consigo e com os outros. À procura do melhor para todos.